O Laborardor inicia a labuta no contato com artistas no ímpeto de por um instante deter a fagulha que estala no momento da criação. Quais são os seus rastros? Tarefa difícil supondo que a pergunta deva orientar, conduzir o fazedor a este momento antes, em busca dos vestígios de memória e insight detonadores do acontecimento obra.

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sábado, 7 de abril de 2012

Entrevista n°2


"Desempoleirando a ave para um nado subterrâneo"

Entrevista com Galvani Sarmento Neto : O Galo ::::::   1° parte   :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

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Galo é um artista versátil e há alguns anos escolheu a rua como atelier, transformando a cidade numa espécie de "aquário polifônico" ou poliglótico. Em suas criações a constante presença de citações em outros idiomas intrigam os passantes, seus peixes que proferem estas estranhezas promovem um diálogo visual que não passam em branco.




Foto: Rocco Ribeiro
AG - Galo o que é o desenho?
Nossa cara, é uma pergunta dificílima de responder, putz cara, eu não sei se o desenho é o caminho, eu acho que eu consigo responder assim de pronto que o desenho é o caminho por que é uma trajetória entre o seu cérebro e o meio né, então não importa qual vai ser a finalidade é... não posso ficar falando umas coisas assim (AG - pode sim é a sua definição fique a vontade) não, não por que senão vou começar a viajar (AG - seja espontâneo não tem problema) é, eu vou ser bem brando.  Por  convenção acreditasse que  o  melhor caminho seja a mão, para o desenho, mas se você pensar no  desenho  como  um caminho qualquer coisa pode servir de meio pelo o qual o desenho se expressa, tanto que se vê gente desenhando com a língua com a boca, com o pé... então assim, eu acho que o desenho é o caminho mesmo é algo que flui e aí é a pessoa que acaba escolhendo ou a mão, o pé, o olho, ou o olhar né, é algo que tá em todo o corpo eu acho. Nem eu imagina que eu iria responder isso... (risos)

AG - Galo, quando começa a sua trajetória enquanto artista ? o que te levou a este interesse?
Vixe, senta que lá vem estória, mano a minha lembrança mais antiga de algo teoricamente artístico que eu tenha, que eu me lembre é eu sentado na esquina da casa da minha vó lá em Souza na Paraíba pelo ano de 1985 eu acho, eu lembro de ver um monte de barro na calçada e eu fazendo alguma coisa com esse barro, é a lembrança mais antiga que eu tenho, assim de ah! eu tô fazendo alguma coisa. Fora isso, tinha um caderno de atividades na escolinha, no mesmo ano, por que a gente teve que ir pra lá. Eu nasci aqui em São Bernardo mas em 85 eu tive que ir pra lá, ficamos 8 meses por que o meu irmão mais novo sofria de bronquite, aí o médico falou pra minha mãe "oh, vai pro sol, que lá ele vai se curar" e foi o que aconteceu, tipo, se curou e nesses 8 meses a gente teve que estudar lá, viver lá.

AG - isso no primário...
É, isso foi no prézinho, nem era primário, antes de entrar pra 1° série, seria o parquinho aqui em São Bernardo. E a escola era muito legal mas era engraçado por que lá a gente se vestia com um suspensório vermelho, era um macacão vermelho e esse macacão, por baixo dele tinha uma camiseta branca com uma carinha de um . . . de uma mocinha, parecia um Pinóquio assim desenhado e era desenhado na mão, todas as crianças tinha esse uniforme.

AG - E as camisetas todas eram desenhadas?
É , todas as camisetas tinham essa mesma carinha desenhada...

AG - Feitas a mão?
Feitas a mão, e todas as crianças com um suspensório vermelho e calça vermelha... eu e o meu irmão, e o outro que era mais novo, como era muito novo nem passou pela escola. Mas essa escola, tenho uma recordação muito bacana por que eu acho foi o despertar dos sistemas, de se preocupar em entender como que as coisas funcionavam, eu lembro do acionamento da garrafinha do suco de uva, por que todo dia a gente tomava suco de uva não sei porque, não sei se é por conta de minha mãe ou por que a gente gostava muito do suco de uva, minha mãe... sei lá, e aí a gente tinha uma, tinha que levar uma lancheirinha e tal, com o lanche e essa garrafinha. Era tipo uma garrafinha térmica e em volta dela tinha uns buracos  na parte superior, quando você a girava assim, bebia o suco por esses buraco, era um sistema bem engenhoso eu acho pra época... eu nunca vi nada depois parecido com isso . Eu lembro que tinha um caderno de atividades também, todas as folhas desse caderno sugeriam alguma atividade muito bacana, eu lembro que logo depois que a gente voltou esse caderno ficou esquecido no guarda roupa lá de casa, ele estava assim com uns 5cm de altura de tanta coisa que tinha colada, inclusive tinha até bicho de feijão dentro dele, por que tinha uma atividade que era pra colar feijão formando um desenho, com o tempo apodreceram e começaram a nascer os bichos do feijão.

AG - Os carunchos...
Foto: Rocco Ribeiro
É, os carunchos do feijão, então eu lembro de abrir ele uma vez e ver um monte de bicho no meio do livro. Eu acho que esse livro foi o despertar do meu senso de criatividade por que fundiu muito a minha cabeça esse negócio. Imagina um livro que quase não se escreve, cê só cola, desenha, pinta, cola uns negocinho... então eu acho que isso deve ter participado muito do meu processo criativo me direcionando pra isso. De volta a São Bernardo eu fui pra 1° série, outra coisa que eu acho, me chamou muito a atenção foi o desenho de um carro colado na lateral da porta, logo quando eu entrava na sala eu olhava assim o desenho, tava alí pendurado na parede era um desenho bem simples, mas era muito genial, por que pra quem estava no meio de crianças que não desenhavam muito bem ver um desenho daquele foi um despertar, era um desenho muito bonitinho de uma lateral de um carro, com as rodinhas, vidro, bem detalhado.


AG- Era um desenho feito por alguém, não era uma reprodução...
Feito por alguém, provavelmente uma ou duas turmas mais velhas que a minha, o carinha desenhava muito bem, não sei quem era, mas eu sei que aquilo me despertou de uma forma que eu falei "ah mano, eu vou desenhar igual a esse cara", e aí meio que por... sei lá, por esse monte de incentivo eu acabei começando a desenhar, sempre inventava alguma coisa, desenhava, sempre que surgia trabalho eu tinha que fazer as capas dos trabalhos, fazer aqueles cartazes tipo: "dia da abolição da escravatura" lá vai eu fazer um cartaz com uma mão e aquelas correntes né, tipo recém cortadas, aquelas coisas que as diretoras ficavam bem assim "oh!" as inspetoras ficavam "nossa que lindo!"... entendeu, então isso foi começando a criar o mito, “ ah, o cara alí que desenha ó.”


AG - De certa maneira foi um incentivo também...
Foi, foi um incentivo também, por que, ser popular na escola com desenho... é claro que não era uma coisa assim “nossa que lindo “, mas pô, pra quem era tímido pra caramba, não tinha um atributo de beleza muito forte, então era aquela coisa “se vira nos 30”, cada um se vira com o que tem né... então eu consegui me virar bem com desenho eu acho, assim, tipo, eu conseguia ser conhecido de alguma forma por causa do desenho. Hum deixa eu ver... e aí acho que foi surgindo esse processo criativo, foi amadurecendo e eu passei pela fase “preciso mostrar pras pessoas que eu sei desenhar” que foi a fase que eu acho que mais perdurou por que durou até os 30 anos. Eu via esporadicamente algumas coisas tipo assim "nossa, olha o que esse artista faz, isso é arte será?" Esse discurso que sempre te acompanha de alguma forma, até hoje né, cê vê por exemplo um artista como o Picasso que é conhecido por um traço específico mas, se você pegar ele no começo, ele alí namorando com o realismo, com...

AG - Uma arte mais acadêmica...
Uma arte mais acadêmica. No começo é difícil tentar entender qual é o caminho que o cara faz, e eu fui entender isso bem velho já, bem assim barbado, já devia ter entendido todo esse processo bem antes. Então eu fiquei refém dessa ideia de “desenhar bem” e mostrar pros outros que eu sabia desenhar , talvez até por essa herança da escola, se você sabe desenhar é um ponto de status né.

AG - Você acha que isso te prejudicou de alguma maneira?
Prejudicou no sentido de tempo, eu acho que devia ter descoberto isso antes, ao invés de ter descoberto com 30 ter descoberto com 20, 10 anos pra mim já faria uma diferença boa, mas por um lado ajudou a aguçar a capacidade de desenho, então, você começa a ter domínio do que você faz, do desenho e tal, de criatividade, dessa transmissão... passar o caminho do cérebro pra mão, então você começa a ter um afinidade maior, são dois pontos extremos que percebo uma conexão muito mais encaminhada, muito mais trabalhada, talvez em função disso.



AG - Tem a coisa da gramática, o domínio dos elementos básicos do desenho que vai te propiciar...
É, aquela coisa de você pegar uma caneta e a pessoa quando vê os dois primeiros segundos que você faz alguma coisa, fala assim: vixe esse cara aí desenha, diferente de uma pessoa que normalmente não está acostumada a desenhar e se acostuma mais a falar do que a desenhar e engraçado isso, como eu trabalho numa área essencialmente técnica quando alguém vem me abordar pra explicar algum desenho, algum projeto, cê percebe que a pessoa conversa mais do que desenha de modo que quando você olha o desenho dela não tem nada a ver com aquela conversa. Eu já sou o contrário, consigo me expressar muito bem pelo desenho e mais ou menos bem "male-male" pela palavra e pela escrita uma coisa até que acompanha a outra, eu acho que eu até consigo escrever razoavelmente bem, tenho os problemas ortográficos e tal “pá daqui pá de lá” mas eu consigo escrever razoavelmente bem. Mas desenho pra mim, continuando essa estória, me levou a querer seguir um caminho estético, eu tinha escolhido o surrealismo foi no surrealismo que eu tentei me encontrar.

Foto: Rocco Ribeiro
AG - Por que você escolheu o surrealismo?
Por ser algo bem diferente do que eu normalmente via, eu via todo mundo fazendo quadros tipo, pintando flor e pintando paisagem e todo mundo "nossa que lindo!, aí que lindo", e aquilo não me cativava, o que me cativava era a esquisitice do surrealismo que fundia simbolicamente, era como se fosse uma explosão, assim, cê pega uma imagem alí e coloca num ambiente de sonho, tipo, você usa elementos da realidade pra criar uma realidade que não existe, você subverte as leis da física, essa coisa de subverter as leis da física me cativou no surrealismo, eu fazia por exemplo o desenho de uma água caindo pra várias direções, corpos que andam em várias dimensões, então essa coisa de brincar com a realidade usando os elementos da realidade me cativou a pensar: então o limite de criação é quase infinito né.

AG - Não para na representação...
É, não para na representação que é o que infelizmente cai no senso comum, a sociedade é muito dominada por esse senso comum de que ah, arte então é definida por essa imagem, por um único padrão, aí logicamente, quando você foge desse padrão ferrou. É o que eu senti quando eu tentei vender esses quadros que eu pintava na feirinha aqui de São Bernardo, do Paço Municipal, eu via todo mundo expondo flores, paisagem, e eu lá no meio de todo mundo com um autorretrato meu, autorretrato meu é ótimo (risos) com a cabeça dividida e no meio uma xícara, sabe, e aí um peixe no meu ombro pescando pra cima, então eu via que as pessoas olhavam praquilo e algumas torciam o nariz, "quê isso, esse maluco não vai vender nunca isso daí". Algumas até admiravam, não sei por pena ou sei lá o quê entendeu, mas assim, passava esse sentimento de pena tipo “ah, vamo dar um oi pra esse cara pra ele se sentir feliz já que ele não vende porra nenhuma", e eu fiquei assim dois anos sem vender P... nada. A única coisa que eu consegui conquistar e ainda foi com uma propaganda bem tosca, foi uma aluna que conseguiu resistir só duas aulas. Por que eu fiz uma propaganda, um panfletinho falando: "tá estressado? vai pintar!" (risos) e aí eu consegui com certeza atrair alguém que tava nessa necessidade, mas que na verdade queria pintar mesmo, não queria ter noção de luz e sombra não queria ter noção de aplicação de cor, coisas desse tipo entendeu. E quando aquela pessoa chegou pra mim e falou "olha eu quero aprender" e começou a ter aula, a primeira coisa que eu fui querer ensinar pra ela era luz e sombra, mas ela na verdade já queria desenhar uma flor de cara, eu acredito que deve ter acontecido uma decepção muito grande na vida dessa pessoa por que pra mim também foi decepcionante, eu pensava comigo assim: eu não vou te dar a liberdade de você começar a pintar sem você entender o básico desse negócio entendeu, tipo, eu não acho justo cê começar a querer sair pintando flor e paisagem se você não sabe uma luz e uma sombra então, provavelmente eu ia ser um carrasco na vida dessa pessoa, ela só ia pintar depois de 3 anos.

AG - A luz e sombra é um pressuposto forte no seu processo...
Então, acabou sendo, mas nem sempre foi assim. Ainda quando eu estava na escola pela oitava série eu comecei a desenhar mesmo e tal, comecei a desenhar para um jornalzinho lá da escola e nessa época uma professora minha, a Carmen Novo [1] ela era responsável pelo jornalismo da escola e recrutava o pessoal pra desenhar, foi ela, talvez a primeira pessoa que chegou pra mim e falou "olha tá faltando contraste nesse seu desenho, tá faltando luz e sombra"... foi aí que a ficha caiu por que, acredito que até então eu não tinha essa noção do que era a luz e a sombra, acho que meus desenhos nessa época eram bem mais chapados com relação a volume e tal. E isso me abriu uma outra percepção, quando ela falou isso pra mim e começou meio que a cobrar essa intensidade da luz e sombra eu acho que eu comecei a aperfeiçoar um pouco mais nessa coisa, como era desenho pro jornal era limitado a fazer com caneta, eu poderia até fazer um rascunho com lápis mas pra sair bem no processo de escaneamento tinha que ser de caneta e fazer contraste na caneta é um desafio né, então assim, aguçava mais ainda a questão do contraste.
Bom, voltando para o surrealismo - eu simplesmente queria ser o Salvador Dalí [2] cara, quando eu comecei a pintar surrealismo. Depois, muito depois não muito tempo assim, mas algum tempo depois caiu a ficha na minha cabeça e pensei: meu, por mais que eu me esforce, por mais que eu me empenhe eu não vou chegar aos pés do Salvador Dalí ou quiçá alguém um dia ver e falar: “nossa parece Salvador Dalí” aí começou a cair pra mim a questão da identidade por que meu, peraí , eu vou me esforçar pra caramba e todo o meu resultado vai ser no máximo um comparativo com um cara que foi um grande mestre? é chato isso né?

Foto: Rocco Ribeiro
AG - Aí chegou a necessidade de trilhar um caminho, buscar algo pessoal...
Buscar uma identidade, quando eu entrei no curso de arquitetura foi o estopim pra eu começar a pintar até então eu pensava que pintar era coisa de rico, entendeu, eu não sabia que era um negócio tão acessível. No primeiro ano de faculdade a professora falou "olha, cê pode fazer o chassi, pode fazer a estrutura, se você for na casa de tecido cê compra um brim, pinta ele de látex branco e tal, cê pode fazer uma tela, pode ir numa lojinha alí e comprar tintas a óleo se você misturar as cores primárias vermelho, azul e amarelo cê faz todas as cores", então isso abriu uma outra percepção na minha vida, foi daí que comecei a pintar, em 98, pintar óleo sobre tela.

AG - Isso na faculdade, só alí que você teve essa...
Foi alí que eu comecei a conhecer as artes plásticas de fato, por que na oitava série eu sempre gostei da história da arte, sempre gostei de desenhar, tive aula com o Celso Ohi [3] que foi um dos melhores professores que tive, me lembro da gente ter feito uma máscara de argila,  ele me ensinou um método de fazer pelo volume e depois passar vaselina colocando jornal em várias camadas e depois tirar a forma,  eram aulas muito relaxantes, eram aulas maravilhosas de arte. Mas voltando ao surrealismo novamente... chegou a hora que eu senti a necessidade de criar uma identidade, só que eu também já estava meio que saturado da metodologia por que as mesmas portas que me abriram o mundo da arte também me abriram pra metodologia, pro método, foi na faculdade também que eu aprendi que teria que teoricamente fazer um rascunho, depois outro com prova de cor e por fim chegar no quadro , isso eu fui encarando com naturalidade entendeu, por um bom tempo. O meu limite foi quando eu descobri como se fazia a proporção áurea e eu comecei a querer criar tudo com base na proporção áurea, eu tava percebendo que eu tava ficando louco já, por que eu consegui chegar na formula geométrica da proporção, aí tudo bem, isso aí fez parte do processo mas a ficha da identidade foi caindo aos poucos porque de tanto ser metódico, eu estava percebendo que quando a ideia ia pro quadro ela já ia morta, não era carregada de nenhuma inovação, não era novo aquilo, pô, se você tinha um estudo em preto branco, um estudo colorido na proporção do quadro aí você pega isso e passa pro quadro que graça tem? Sabe...

                                                          AG - Isso foi uma revelação importante.
Circus
Pra mim foi uma puta revelação, porque eu comecei a entender a questão da ideia nascendo morta,  eu falei qual é a graça que tem agora de pintar? quer saber de uma coisa? Tchau metodologia! aí foi que fiz esse quadro aqui,  peguei um pincel e comecei a criar o primeiro personagem do nada assim, sem rascunho sem nada, sem pensar em nada, a minha referência única e exclusiva era Hyerônymus Bosch [4] eu falei: “eu quero fazer um negócio dark, um negócio sombrio”, por que eu gosto muito da luz e a sombra do Bosch,  aquele ambiente que ele cria alí é uma coisa fantástica e eu queria me espelhar nele não com relação a imagem mas com relação a estética eu queria passar uma coisa meio triste, meio dark aí eu comecei a fazer aquele primeiro personagem verde ali, ele é o mais escurinho de todos com uma presença forte de contraste de luz e sombra. Esse eu consegui fazer, agora os outros eu comecei a partir pra cor, aí virou um colorido de vez, eu perdi o controle da situação na verdade, aí ferrou por que... eu comecei a pegar umas referências por exemplo... eu gosto muito da Catalunha, eu gosto da bandeira de Barcelona, aí já coloquei alí a bandeira da Catalunha , coloquei uma bandeirola com pedaço do hino da Catalunha que é “ARA ÉS HORA”(AGORA É A HORA) coloquei eu com a minha esposa dando um beijinho alí (risos), coloquei a Lita, minha cachorra andando no meio do quadro entendeu, então começou a perder o limite, sabe foi um...eu comecei a provar um gosto pela liberdade de criação que eu não tinha até então, por que às vezes a gente tem muito medo de apostar numa imagem, medo do que as outras pessoas vão achar né... aí eu falei "ah meu, não tô devendo nada pra ninguém, o que sair aqui vou sair no lucro, se vão gostar ou não... não tô nem aí entendeu?", foi com este pensamento que eu pintei esse quadro, foi com este pensamento que um ano depois eu fui pra rua. Então esse quadro aqui me norteou pra seguir com esse pensamento e hoje é o que eu faço.

AG- Sendo você um arquiteto "um homem de projeto", é possível determinar onde acaba o arquiteto e começa o artista? Existe alguma diferença?
Olha, na minha cabeça não existe essa diferença por que pra mim o curso de arquitetura foi um curso formador, tipo, eu me formei como ser artístico depois que eu entrei no curso de arquitetura. Desde a questão da metodologia que depois eu acabei abandonando, até a questão social, passando pela percepção da arte em si, o estudo da arte formou o que eu sou de certa forma. É claro que quando eu tô na rua eu tô de igual pra igual com qualquer pessoa, a percepção de arquiteto acho que ela começa e termina quando você percebe os extremos da cidade. Cê pega um ônibus, tipo uma vez que a gente foi fazer um grafite no Campo Limpo , a gente pegou um ônibus na 9 de Julho quase alí embaixo do MASP [5]  10 minutos depois já estava passando pelo Morumbi e 5 minutos depois já estava na beira da favela. Então, a percepção de uma cidade que continua e continua com todos os seus extremos isso pra arquitetura é uma vivência que às vezes você só tem no livro, sabe, sentir a cidade com esta intensidade é muito difícil. Você só sente essa intensidade toda da cidade quando você a percorre, então hoje em dia eu não vejo uma separação, não vou falar pra você que quando eu tô pintando na rua, eu tô pintando como um arquiteto por que não é verdade, na verdade quando eu tô pintando na rua eu me sinto mais parecido com um monge do que com um arquiteto, por que é uma doação, assim, você pintar e às vezes você não tá bebendo água, não tá comendo, o sol tá alí rachando e tal, eu me sinto mais como uma pessoa humana no sentido de sentir o sofrimento do quê como um profissional, pra mim é quase como se fosse uma penitência, nesse sentido sabe, eu acho que é necessário, não que eu goste de sofrer e tal, mas eu vejo mais como um penitência, mas num sentido bom, elevada num sentido de desafogar, é mais nesse sentido. A própria ferramenta que eu uso, o pincel, é um tipo de ferramenta que te ordena de certa forma, por que ele te dá um tempo, ele fala assim “ó você não vai passar desse tempo”...no momento em que você tá pintando com o pincel a partir desse momento é um tempo que foge ao seu controle, cê tem que respeitar o tempo do instrumento... dependendo do tamanho do trabalho cê fica lá 8 horas sabe, são pequenos traços, numa velocidade razoavelmente lenta, mas que tem um tempo, não adianta querer atravessar, querer ir mais do que o pincel suporta, então o próprio pincel acaba sendo um fator determinante, é esse tempo que eu acho que é importante, é esse tempo que eu busco.

Foto: Rocco Ribeiro

AG- Como funciona pra você o processo criativo, o que te instiga a criar?
Eu confesso que quando comecei a pintar na rua, por não ter essa questão do rascunho, da metodologia, eu não me lembrava o que eu tinha feito uma semana antes, então fica incoerente, por que nossa, como você vai manter uma identidade, um traço se você não lembra o que fez na semana passada? Em termos de traços, características e tal... como tinha todo esse estigma da rua, da violência, da perseguição policial e eu não tinha a menor vivência do que significava isso de fato, por que eu mal saia de casa, meu circulo era assim, pintar um quadro, mostrar pros amigos, às vezes eu saia pelo Ferrazópolis [6] mostrando os quadros pras minhas tias era isso, voltava pra casa e já era, não tinha nenhum contato além disso. Aos poucos eu fui conseguindo me relacionar melhor com essa forma de pintar, quando eu comecei usava apenas duas cores, duas não, eram o azul e o branco, por que na minha cabeça era assim se a polícia chegar eu consigo sair correndo só com duas garrafas... (risos) é, pra você ver, como fica muito estigmatizado, imagina: cê é um puta de um nerd, nunca pintou na rua, não tinha contato com ninguém, ninguém te conhece cê vai pensar o quê?


Um dos primeiros trabalhos na rua
Vou pra rua pintar um muro que ninguém vai me deixar pintar, cê só vai pensar em polícia, tem uma hora que chega a virar uma paranóia entendeu... eu tava meio que nessa transição, os pincéis que eu tinha eram um pouco mais grossos do que os que eu usava pra pintar tela, então eu me lembro de um dos primeiros muros, de ficar quase um dia inteiro, quase até anoitecer pra fazer um tamanho de um metro no máximo e não tinha nem traço era só jogo de volume, muito volume, hoje eu tenho uma limpeza de volume muito grande, basicamente é bem limpo meu trabalho, tem o degrade, não satura, não são várias coisas de degrade espalhadas por todo o universo e tal . . . hoje tem uma limpeza muito forte, até demais eu acho. Eu percebi que fui tendo um processo evolutivo aos poucos, por que antes não tinha traço, depois eu senti a necessidade do contraste de novo, aí depois da massa de cor e do degrade veio a linha e aí eu senti de novo a necessidade do contraste e veio de novo a sombra da linha que é uma linha, mas um pouco mais grossa que dá um volume pro negócio, uma sobreposição, em cima, em baixo e depois vem uma faixa também, que antes não tinha. Essa faixa na verdade acaba servindo como escada, tipo: “sobrou um espaço, coloca um faixa” entendeu, que pra pessoa meio leiga quando vê pensa "nossa ele preenche muito bem o espaço"... preenche porra nenhuma, na verdade, a composição se dá por que tem uma imagem principal ou duas, três, mas as faixas acabam ampliando o horizonte da composição, isso acaba dando a impressão que a composição tá muito bem resolvida, mas não é verdade, na minha opinião eu não acredito nisso, a faixa pra mim surge como um escada para o personagens subirem, tanto que alguns trabalhos do começo as figuras tão muito espaçadas, muito distantes, uma composição muito... não tem um conjunto né, e é coisa que cê vai pegando com o tempo, porque você é condicionado a trabalhar às vezes numa folha de sulfite e às vezes cê vê criança que o professor dá um folha de sulfite pra ela e ela desenha no cantinho assim, ela não tem noção do todo, a mesma coisa acontece quando cê tá no muro, pra você preencher a totalidade de um muro da melhor forma possível cê tem que saber até onde o espaço tem que ser bem aproveitado senão vai ficar um negócio muito estranho.
Bom, a principio o meu processo criativo vem do acaso, nasce do acaso, eu vou pra rua e quero me expressar, o que me instigou a isso foi estar trabalhando num bairro que é o coração do grafitti [7], o Cambuci, eu andava pelas ruas ali, e ainda ando, e sempre vejo um grafitti surgindo, um grapixo [8], throw up [9], é sempre o bairro que borbulha alguma criação de certa forma e como minha ação era limitada só a quadros falei "ah meu, porque eu não vou pra rua então?" e aí eu já fui pra rua com uma outra cabeça, por coincidir com esse período de tentar descobrir uma identidade, então veio tudo de uma vez. O que me provocou essa ida foi "eu preciso desenhar, eu preciso me expressar eu tenho alguma coisa pra mostrar, acho que é relevante, não sei.... então eu vou pra rua e seja o que deus quiser" entendeu, o estilo é esse seja o que deus quiser.
1° experiência com spray
Então eu saí pra rua, e antes de sair eu tinha ido numa loja e aí apareceu de novo aquele complexo de “Salvador Dalí”, eu comprei um monte de lata de Spray, um monte de bico [10] , gastei uma grana e falei "meu, vou pintar igual Os Gêmeos"[11], ai de novo a história se repetiu e eu “quebrei as pernas”, eu fiz aquilo que tá lá no quintal (imagem ao lado), aquela coisa ridícula que tá alí que é “free style”, só fiz letra por que eu não conseguia fazer outra coisa, eu trocava os bico do spray o traço continuava saindo grosso do mesmo jeito e o vendedor tinha me falado que era só trocar os bicos que sairia fino e eu comecei a xingar o vendedor... aí os dedos começaram a doer, o pulso, aí eu falei: “meu, começou e acabou aqui minha carreira de grafiteiro” por que olha o que fiz na parede, eu fiquei uma semana vendo isso aqui... e até hoje eu vejo né, mas hoje tenho menos trauma. Do que eu queria fazer para o que eu fiz é um contraste tão absurdo que eu falei "eu sou lixo, não tem moral pra querer sair na rua, pra fazer uma coisa dessa na parede". Como eu tinha mais afinidade com a tinta líquida, na semana seguinte eu saí com essas duas garrafinhas e fui pro 1° muro de escola que tava dando sopa aqui, tava dando sopa entre aspas, por que uma semana antes, estava lindo, bege, sem nada, parece que é você querer pintar e... veio um cara e escreveu: NEPS AMA VAL, em letras garrafais, 40 cm de largura cada traço pegando a extensão do muro de 30m, tipo o muro foi do cara entendeu, e na época eu não sabia como funcionava essa relação da rua, eu fiquei muito puto com isso, por que, pra mim o muro já era meu mas alguém chegou primeiro e pegou o muro inteiro, aí eu falei e agora? Mas é o único muro que eu tenho, vou lá! é perto de casa.. qualquer coisa saio correndo, aquele pensamento... e foi o 1° muro que eu comecei a interagir, ao invés de ignorar o pixo [12] do cara, eu resolvi interagir, por que eu não queria destruir o que o cara fez, eu só fiquei chateado porque ele chegou primeiro que eu, entendeu, eu não queria apagar o que ele fez, eu nem sabia quem que era, depois acabei conhecendo o cara...

Fiquei sabendo que os caras queriam me pegar e tal... mas esse foi o meu muro laboratório, eu comecei a fazer vários pedaços, a ter as primeiras noções do que era a rua, sentir os dez primeiros minutos de tensão absurda tipo vai aparecer alguém, vai aparecer alguém... e quando cê menos espera quem aparece é o tiozinho, tipo o “dono” da rua, por que toda rua tem um “dono” aquele tiozinho ou tiazinha que fica alí olhando da janela o que está acontecendo e foi a primeira abordagem, o primeiro cara que perguntou se tinha autorização, a primeira mentira falando que tinha, assim, foi o primeiro laboratório mas o engraçado foi nos primeiros minutos que ele viu eu desenhando ele perguntou se eu era pichador eu falei não, não sou pichador eu estou pintando aqui, “e você vai pintar o muro inteiro?” eu falei vou! Vou pintar o muro inteiro, fazer um painel gigante e ele: “que legal né, por que vem esses pichador aí né”... aí cê já começa a entrar em contato com outros conflitos sociais, da mesma forma que na arte tem o conceito do que é arte, na rua tem o conceito do que é o vândalo e o vândalo pro censo comum é a figura do pichador e isso é quase 100% todo mundo meio que já saí do berço falando é pichador, é pichador... então, como eu comecei a pintar com pincel era difícil para as pessoas identificarem o que eu estava fazendo, por que meio que se convencionou se você tá portando lata, não importa o que você faça, você é um pichador, isso é uma convenção, é os 15 primeiros minutos de alguém que está fazendo alguma coisa no muro não dá pra saber o que a pessoa está fazendo a não ser que o cara seja um "the flash" né, então você começa aos poucos a ser apresentado à rua e aos poucos ter noção do que é essa realidade, mas a principio quando eu comecei a pintar eu só queria me expressar e tal, depois num 2° momento eu comecei a partir para esse instigar, esse provocar.

AG - A rua é apenas um suporte para a sua expressão ou se configura em algo mais intenso no processo de elaboração do seu trabalho?
Eu acho que as duas coisas. No começo ela pode parecer um simples suporte, mas eu gosto de pensar, hoje eu penso assim: tá bom eu não tenho nenhuma ideia do que eu vou fazer, mas tenho certeza de que quando chegar lá alguma coisa vai rolar, então assim... uma pessoa que passa do seu lado, uma pessoa que puxa conversa, se tá sol, se tá frio, se tem algum som... tudo isso são fatores que vão colaborar com o processo criativo, muitas vezes uma pessoa veio conversar comigo e a partir disso surgiu alguma coisa, então, a rua, ela é suporte mas vai além disso, ela acaba sendo um universo que se você olhar, prestar atenção cê garimpa muita coisa, então hoje em dia quando eu chego num muro que tá meio zuado, que o pessoal chama de chokito (muro acidentado, irregular) que não permite uma composição muito segura, não dá pra ficar fazendo muito coisa, muita firula, entendeu, gasta bem mais tinta e tal, nesses casos eu vou e faço simplesmente um peixe, só pra dizer “ó, cheguei aqui”, que na cultura do grafitti é o que pessoal chama de TAG [13]  é uma marcação, mas no meu caso a marcação é um desenho bem grande, não é simplesmente chegar... e sair fora, mas quando o muro é liso e a oportunidade é bacana e você vê as pessoas em volta, conversa com alguém, tudo isso vai influenciar na composição, ou às vezes cê tá andando, no busão mesmo, cê imagina uma pré-composição na sua cabeça e quando chega no muro, transforma-se em outra coisa, é difícil trabalhar com uma ideia fixa, geralmente eu tenho um embrião de alguma coisa que quando chega no muro ou se transforma pra algo melhor ou bem mais simples, depende da ocasião.


Parte2 ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::


6 - Gostaria que vc falasse um pouco sobre a apropriação de outros idiomas no seu trabalho  esta mistura e constante presença de "dizeres" nas suas composições.
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 Então cara, eu sou apaixonado pelas línguas do mundo inteiro, se eu pudesse seria um poliglota e não troglodita (risos), mas eu mal falo inglês, o meu “inglês Shakespereano” (risos), mas eu tenho uma curiosidade que vai além. Você pode falar muito mal um idioma, mas se você for curioso a comunicação existe porque, é fenomenal sabe, o ser humano é muito fenomenal, é complexo demais, cê pode não falar a língua do fulano lá da indonésia, mas existe uma comunicação ou gestual, ou seja lá o que for, que permite comunicar-se de alguma forma. O ser humano parece que já nasce capacitado de alguma forma pra conseguir estabelecer um diálogo independente da língua e hoje em dia com essa coisa do inglês e tal qualquer lugar do mundo tá arrastando ou arranhando algum inglês, por pior que seja, por talvez não ser uma língua muito complexa do ponto de vista linguístico, porque dizem que o inglês é uma das línguas mais fáceis de aprender, eu não sei mas sempre fui criado com essa afirmativa e hoje em dia é uma língua muito vasta: cê pega na internet, você consegue ler uma notícia no New York Times  ou vai lá pra BBC de Londres é toda uma notícia em inglês ou pega um rádio escuta a BBC o dia inteiro, os caras falando inglês, o nosso cérebro tem uma capacidade, não sei se proposital, por que deve ser, de incorporar os idiomas de alguma forma e desencadear esse processo linguístico. Por mais que você não fale um idioma o cérebro começa a linkar as imagens com as palavras... se bem que eu falo muito mal inglês mas às vezes surgem palavras que eu não sei o significado, mas se apropriam em certas ocasiões ao que eu quero falar ou escrever por exemplo...



E nos trabalhos?
Nos trabalhos isso surge de outra forma. Eu gosto de ouvir as pessoas falando numa outra língua, eu fico curioso. Eu até brinco com a Ana (esposa) que se eu tivesse uma grana e não precisasse trabalhar, eu montaria um quiosque na Av. Paulista, ficaria o dia inteiro dando informações em todas as línguas possíveis e imagináveis do mundo inteiro só pra conseguir falar com as pessoas entendeu... isto se não tivesse nada na vida pra fazer.
No graffiti esse processo linguístico surge mais como uma provocação, ele não tem uma ideia a princípio de comunicar, se bem que as frases que eu coloco são frases reais mesmo, não são invenções. Tem um cara que eu conheci, ele também usa algumas letras que assemelham ao russo, mas que diferente de mim ele não tem um compromisso com o sentido da palavra, ele gosta de fazer uma brincadeira sem significado nenhum. Eu já acho assim, tem que colocar uma frase mesmo que seja em outra língua, mas, mais pra instigar a pessoa, mais pra provocar, entendeu? Então a ideia é provocar, mas eu começo a perceber aos poucos que ela também está começando a unir, porque eu começo a conversar com uns caras da Bulgária, da Macedônia por conta dessa coisa das letras, de colocar uma frase no graffiti. Antes quando eu não conhecia ninguém no meio, eu simplesmente jogava uma frase em latim que eu achava bonita, mesmo que a pessoa não fosse entender o significado, mais pra provocar como eu disse. Hoje eu entro em contato com um pessoal na Bulgária e ele fala: “Escreve isso aqui pra mim”, aí eu incluo no trabalho e os caras veem lá na Bulgária e dizem: “Nossa que loco e tal” e aqui ninguém entende bulhofa nenhuma do que está escrito, nem eu mesmo (risos), mas daí se cria uma ponte que era impossível de imaginar há um tempo atrás. Aí começa a surgir umas situações bem engraçadas, você começa a perceber que essa cultura do graffiti é uma coisa mundial mesmo, não importa o lugar, não importa a religião, não importa o meio, ela é muito forte, ela é mais forte do qualquer sistema imposto tanto que eu conheci um grafiteiro indiano, o Sandhip. Ele faz o graffiti dele com uma influência muito americana, tipo o cara escreve em Punjabi[14], mas não se vê uma letra punjabi no graffiti do cara, você vê tudo letra ocidental. Tem um graffiti do cara que tá escrito Sand e ele com pose de grafiteiro na frente mas com um turbante na cabeça, se vê como é a coisa da cultura assim, a posição, a pose acaba influenciando. 

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Você acaba gerando um intercâmbio e nessa de querer escrever as coisas, eu sem querer ia quase cometendo uma gafe, por que eu cheguei pra esse indiano e falei: “me dá uma frase aí pra eu colocar no meu graffiti”, aí ele falou: “há, toma essa daqui, toma esse link aqui”. Me deu um link todo em Punjabi, na língua deles, não tem nem tradução pro google ainda, aí eu falei: “beleza, posso escrever tudo isso no graffiti então?”, ele falou: “não meu, pra você escrever isso daí você tem que estar com as mãos limpas”, eu pensei: caramba!. Então eu falei: “me dá uma frase aí que não pega nada né... pra vocês não me odiarem pra vinda inteira”,  ele me deu uma frase curtinha tipo: “só existe um único deus e esse é o deus de todas as coisas”. Depois que eu me liguei que a religião dos caras é monoteísta, eles são Sikh[15] na verdade, uma religião dentre várias daquela região e que justificava aquela frase. E é engraçado, você começa a ver que os caras na Bulgária se reúnem em grupos como aqui, as realidades são muito parecidas, é o que o pessoal chama de Crew[16] , já vem como herança dos E.U.A, mas que na verdade são grupos e lá na Bulgária tem um grupo que chama “Bitola Art Crime” e aí eu mandei um salve pros caras, mandei uma mensagem escrevi no graffiti “BITOLA ART CRIME”. Tinha uns maluquinhos lá na praça, já meio fumados e tal, e chegaram pra mim: “nossa mano, Baitola art crime?” (risos), eu falei: “não mano, não é baitola, é bitola”, até cê explicar para o cara que focinho de porco não é tomada, os caras ficaram tirando o sarro. Depois eu descobri que essa cidadezinha de Bitola na Bulgária tem 100 mil habitantes e 8 grafiteiros na cidade inteira, acho que os 8 me adicionaram no facebook (risos), é engraçado, você vê que lá eles também sofrem muito com repressão policial, então é uma realidade muito parecida.

7 - Vc que vem de uma formação digamos mais "técnica" e objetiva "racional" no sentido de "comunicar" como vc enxerga estas atmosferas do desenho pensando no seu trabalho artístico?
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O que eu posso falar pra você é que são universos totalmente distintos, uma coisa não tem nada haver com a outra. No meu dia a dia de trabalho, eu tô ali mexendo com programa de projeto (CAD), fazendo calculo, lidando com medidas, é algo extremamente racional, quando eu vou pra rua, pra desenhar na rua, eu me dou ao luxo de ser irracional dentro da minha racionalidade, ou seja, eu quero ser o mínimo racional possível, o suficiente pra conseguir pegar um ônibus, conseguir conversar com as pessoas conseguir pegar um pincel e desenhar, mas de resto eu quero ser irracional. Pra mim é uma ventilação na cabeça, eu não quero levar nenhuma preocupação muito exorbitante, tanto que assim, eu vou com a intenção de pintar, se dá ou não certo não tô nem aí também, entendeu? Não tenho o compromisso de tudo que eu pintar vai ser aquela coisa esplêndida e linda... tanto que tem hora que você começa a ver que você se repete muito, o que é um outro desafio, você começa a ver até que ponto você está se repetindo e até que ponto você está caminhando. Mas, quando eu vou pra rua eu tô pouco me lixando pra questão do desenho, no sentido de ter um caminho racional da mesma forma que eu teria trabalhando com projeto, por exemplo. Para mim é um lazer, eu tô ali brincando de pintar e lidando com pessoas que estão quase na mesma condição talvez até mais preocupadas do que eu, por que eu fico totalmente relaxado, às vezes você chega nos eventos ou na rua mesmo, os caras chegam com os livros, com os rascunhos, folheia, tipo “acho que eu vou fazer esse aqui hoje” e aí cê vê a preocupação do cara em passar aquilo pro muro e dá vários riscos e tal e fica preocupado. Meu, eu não tenho nenhuma preocupação desse tipo, pra mim é “encosta aí, se quiser interagir com meu pode interagir”, pra mim é uma oportunidade de liberdade porque ninguém vai estar me podando, ninguém vai estar me falando o que eu devo fazer, o que normalmente quando você está envolvido na sociedade com trabalho sempre vai ter alguém pedindo pra fazer alguma coisa, cê sempre vai estar sujeito a alguma ordem a partir do momento que você trabalha pra alguém por exemplo, então quando eu estou na rua, pra mim é um momento de liberdade que eu não tenho em nenhum outro lugar: eu sou responsável por aquilo que eu faço dentro da minha liberdade e dentro da minha liberdade eu faço o que eu quero fazer em termos de desenho sem me preocupar se vai ficar bom ou ruim. Eu tenho uma metodologia muito simples que é basicamente o degrade e o contorno, dentro disso eu posso fazer qualquer coisa que eu imaginar.

8 – Complementando: um dos aspectos do seu trabalho é usar esta linguagem "projetual" para criar um universo aparte, dando certo tom de veracidade ao seu personagem principal.  Gostaria que você comentasse os manuais de construção do Piscis e os seus respectivos termos "técnicos".


(Risos) Mano é engraçado, por que assim, eu criei um personagem que na verdade é um alter-ego, não sei bem se essa é a palavra mas acho que deve ser, que é a figura do seu Chico. O Seu Chico é na verdade eu transportado pro graffiti de forma técnica, daí que se origina os projetos mais absurdos possíveis, com as nomenclaturas mais absurdas possíveis, e com um pouco de pé na realidade, do ponto de vista de quem vê e fala: Nossa, parece um projeto!. Mas não é!. Na verdade é uma grande palhaçada, uma grande brincadeira, seu Chico é um engenheiro teoricamente respeitadíssimo que fundou simplesmente uma empresa (risos) Aero Espacial Molecular, PHD em vários assuntos... tem uma biografia pequena dele. Na verdade ele é o meu alter-ego, ele é um puta de um engenheiro, tudo o que eu não sou ele é (risos) assim: super respeitado, trabalhou na NASA, trabalhou em vários lugares, (risos) ele cria um base realista mas com pitada cômica muito forte, então é uma mistura de Leonardo da Vinci, um engenheiro e um tiririca, um palhaço... sei lá. A ideia é essa mesmo, criar uma pseudo-realidade até chegar um ponto de você não saber o que é real e o que é ficção. Minha ideia mais pra frente, se for possível, é criar um automóvel mesmo, o peixe com engrenagem e tudo, de verdade e tal, e aos poucos também criar um maquete eletrônica de uma empresa do Seu Chico com todos os componentes. Sabe quando aparecem aquelas imagens da Embraer dos caras soldando fuselagem de avião? Eu quero fazer essa mesma coisa só que com os peixes, tipo fazendo a imagem de um galpão enorme e uma linha de produção com um monte de peixe e um monte de caras com aquelas roupas especiais, aqueles robôs e fazendo peixe (risos).

AG: O cardume vem aí . . .
A ideia é criar uma realidade cômica da situação, pra pessoa falar assim: “caramba mas então quer dizer que essa turbina realmente existe... que tá nesse peixe, nossa não é possível!” Criar esse nó na cabeça, a ideia é essa, mas ainda é um embrião, por enquanto o seu Chico ainda aparece de vez em quando. Eu fiz uma pequena biografia dele, eu falei que ele foi pra Noruega, fez uma especialização lá em foguete, casou com uma galega, mas aí teve um filho com outra galega e aí cê começa a criar um fio de estória que vai embora, é engraçado, eu acho bacana isso aí.

AG: É uma outra linha no seu trabalho...
É um fio condutor na verdade... Que justifica alguma coisa, não que o quê eu faço precise ser justificado, mas acaba gerando esse fio condutor, que é legal do ponto de vista de estória, é aquela coisa que a gente comentou aquela vez: a criação do mito pessoal. É uma história que nasce do caos, praticamente não tem projeto nenhum pra nascer, mas que na mediada que ela vai nascendo, vão nascendo outros elementos nessa estorinha que vão se ramificando até chegar uma hora que a pessoa vai falar: “caramba mano, esse cara tem problema, não é possível!” (risos) Esse cara não, isso aí é projeto do seu Chico, eu não tenho nada haver. Teve um dos projetos que eu fiz, e o engraçado é que o projeto nasce depois do negócio feito, isso que é bacana por que também é subversivo de certa forma, por que geralmente o projeto nasce antes da coisa. Exemplo: o cara projeta o relógio, primeiro ele faz o projeto, cálculo de material, orçamento e depois é que vem o relógio propriamente dito. Eu não, eu fiz primeiro o Toy[17] do peixe avião, depois que o toy estava pronto, eu peguei uma folha coloquei na mesa, olhei pro peixe e falei: “vamos lá, projeto agora”(risos) e aí eu começo a fazer o projeto, entendeu?. O projeto é uma mistura do que eu acho que eu sei de latim, que na verdade eu não sei nada, com um pouco de português bem chulé, por que qualquer coisa que termina com “IM ou com OX” pode ser considerado latim pra quem não entende nada, como eu por exemplo (risos). Então começa a gerar uma situação meio esquisita, por exemplo, teve um toy que eu dei de presente a um amigo, na verdade foi uma troca ele me deu uma tela e eu o toy, e eu dei pra ele também o projeto do toy do avião, tem uma parte do projeto que puxa uma cota[18] assim e tá escrito assim: TAMPAX, na verdade é a tampa do suposto motor do toy (risos) e está lá, TAMPAX, eu achei tão bonito, parece até latim e nem me liguei que ele fez associação com ‘tampax’[19] mesmo entendeu. Eu só vi o cara dando risada: “mano, o que é isso aqui? Tampax?”, eu falei: “aonde cê tá vendo isso?” Ele: “aqui, cê escreveu aqui”, eu falei puta: “foi sem querer mano”(risos). Então é um exercício que eu acho que eu até peguei um pouco do surrealismo que é as ideias serem colocadas quase que psicografadas na folha direto e pronto, sem pensar muito entedeu... então eu vou alí e coloco: fiosterrenosaurelios, tipo eu viajo na maionese total assim...

AG: É um viés de certa maneira poético, esse trabalho com a invenção de palavras...
É, uma licença poética com um pé na loucura mas é uma loucura consciente, eu de um meio extremamente racional que é o projeto, para dar justificativa pra uma loucura consciente entendeu? Isso que é o bacana, a figura da loucura não precisa ficar estereotipada em algo que seja tipo “ao acaso” e que não tenha nenhuma riqueza no sentido de eu poético, versatilidade...

AG: Construção?
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Construção. A loucura pode ser aliada no sentido de construção mesmo, esses projetos não passam de um delírio na verdade, por que é a hora que eu sento aqui é viajo, começo a inventar sistemas que não existem, ou com um pé em alguma realidade que eu acho que eu sei que é, mas eu sei que quem vir vai falar: “não, mas isso não é possível!”. Pro leigo da mesma forma que ele cria um conceito das coisas, ele vai falar: “nossa, isso é um projeto mesmo cara! Que legal”, mas na minha consciência eu tô falando: “isso aqui é uma comédia”. Eu tenho consciência de que o que eu estou fazendo ali não é uma verdade, é uma loucura, porém por ser uma loucura bem organizada, bem disposta e com uma linguagem de projeto cria um nó na cabeça das pessoas e elas acreditam que se trata realmente de um projeto, e talvez daqui a um tempo tem gente que falará: “nossa que legal, ele criava até um projeto pra fazer os toys”.

AG: Mas isso é interessante, faz parte desse universo que está sendo construído...
Sim, mas o que eu quero defender é que pode existir uma loucura criativa que na verdade dá um nó, que engana, na verdade eu estou tentando dar uma de esperto pra cima do que as pessoas acham que é o normal. Eu dou um vestido bonitinho pra algo que não passa de uma loucura programada.

9 - "firmitas, utilitas, venustas": as três colunas conceituais da arquitetura,  um código de ética, estão sempre presentes nas suas composições. De que maneira estes conceitos se relacionam com o seu fazer artístico? É um aspecto da sua identidade?
 Talvez isso aí é que tenha mais o pé na arquitetura, quando eu escrevo estas palavras, talvez seja o momento que eu lembro da minha formação. Eu lembro de uma aula de História da Arte do Yokota, professor que a gente teve, e pra mim foi muito importante. Ele falava do Marcos vitrúvio Polião[20], que foi um arquiteto romano do século I, que escreveu um livro que é quase uma bíblia da arquitetura, que basicamente mostrou pra todo mundo até hoje, os fundamentos da arquitetura, e dos fundamentos os mais marcantes pra mim foram o “utilitas, firmitas, venustas” que é utilidade, solidez e beleza, uma tríade que teoricamente toda a arquitetura deveria passar antes de um processo de projeto, antes de se conceber uma obra arquitetônica deveria, teoricamente estar na mente do arquiteto, essa tríade e geralmente não é o que você vê. Depois que começou a cair na coisa do mercado, de você encontrar materiais disponíveis a torto e a direito, começou uma massificação dos processos construtivos, perdeu-se um pouco da poesia arquitetônica, pelo menos na maior parte da cidade. Hoje em dia, você constrói uma casa razoavelmente rápido mas ela é extremamente funcional, o belo está assim, tido por último nesta questão.

AG: Esses conceitos alinhados ao seu processo criativo tem um papel fundamental na criação da imagem?
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Tem por que no processo de criação da imagem preencho uma lacuna do belo, por exemplo. O que eu faço teoricamente seja a procura do belo, no sentido da imagem por ser uma coisa que é carregada de uma estética forte... o que eu faço não é anárquico, é muito fácil de ser engolido, pelo menos por uma boa parte das pessoas, é claro que algumas não vão achar isso que eu tô falando, que eu também acho que é um direito delas, normal. Mas, puxa muito pro lado estético, o belo, talvez em função de não ter o belo na cidade propriamente, como seria legal ver, talvez acabe preenchendo essa lacuna. O graffiti precisa existir na cidade, existem as políticas que querem fazer com que o graffiti suma da cidade, mas nunca vai sumir, nem o graffiti, nem a pichação, que tá dentro do graffiti também, e os caras às vezes querem separar, mas nós precisamos de estímulos visuais pra conseguir viver harmoniosamente dentro da cidade. Uma cidade cinza com uma arquitetura dura, linha reta sem nada de arte nas paredes é uma cidade muito ruim de viver, é um cidade muito dura, as pessoas ficam doentes vivendo na cidade, a cidade adoece as pessoas, enlouquece as pessoas. Parece, não sei se eu tô viajando, eu vi isso em algum lugar, parece que 30% dos habitantes de São Paulo tem algum problema mental, eu vi isso em alguma manchete e não é de se espantar, porque realmente o sistema pelo qual a gente vive, não é natural da gente, o ser humano não é natural da cidade ele é natural de alguma outra coisa. A cidade é um advento recente na vida do homem moderno, então tudo que a gente vive aqui, essa organização que é culpa até da falta de urbanismo ou de um urbanismo equivocado que também faz parte da arquitetura. Mas todos esses elementos visuais que compõem a cidade, de certa forma eles acabam afetando estruturalmente nosso cérebro, é isso que eu acredito. Se hoje você pensa de uma forma, é por que você é um ser essencialmente urbano diferente se você vivesse no interior de Minas, por exemplo, ou no interior da Bahia, com certeza em termos de estrutura cerebral, uma pessoa que vive numa roça tem uma estrutura diferente de quem vive na cidade que passa 4 horas no trânsito por dia, por exemplo, ou no computador. Eu acredito que o poder público deveria ter a consciência que a cidade como ela é concebida é funcional, mas não resolve os problemas. A cidade não é um negócio acabado, é um ser mutante, ela tá, vira e mexe renascendo, nascendo por cima da outra na cidade de São Paulo, no Brasil que é um lugar relativamente novo não se sente, mas em Roma que os caras escavam pra instalar um poste, tem um cidade em baixo e aí, tem outra cidade em baixo da outra cidade. Não sei se São Paulo vai chegar num nível desses daqui uns mil anos, mas eu acho que o graffiti, ele entra na cidade pra fazer essa ligação, do ser humano com o belo e de alguma forma criar um elo na vida pessoa e tornar a vida na cidade mais fácil de encarar. Acho que a gente precisa de cor pra  conseguir encarar a vida de uma maneira diferente.

10 – Galvani, quem é o Galo?
Eu? sei lá mano!. Eu acho que eu sou fruto de um monte de coisa que eu consegui absorver. Meu apelido, galo, foi um apelido de escola, uma brincadeira de uns moleques que me vendo naquele ambiente novo tentaram me encaixar ali. Imagina: você sai da 7° série num escola pública e vai para 8° numa escola particular, numa turma nova já consolidada cê chega ali como um estranho. Da mesma forma que uma formiga sente o cheiro da outra diferente e de repente quer matar, nossa sociedade é bem parecida, não no sentido de querer matar, mas “pera aí, vamos dar uma marca, um cheiro pra esse cara, pra ele fazer parte do nosso meio entendeu”, e aí tentaram me apelidar de varias formas, de Gal Costa... E aí viram que o negócio não ia virar e aí de alguma forma, um carinha lá da turma me associou com um galo, acho que do atlético mineiro, o símbolo do atlético, e começou a me chamar de galo, galo, galo... e foi uma coisa que eu acabei adotando sem resistência. Cheguei na faculdade, primeiro dia de aula, a professora perguntou: “qual é o seu nome?” eu falei: “Galvani, mas pode me chamar de Galo”, ela falou: “o quê?” Eu levantei da cadeira e... “pode me chamar de galo” e aí mais uma vez se perpetuou o nome, tinha tudo pra parar ali, tipo “meu nome é Galvani e tal”... mas eu gostei, por que é bem popular, de certa forma é bem fácil. Pô, quantas pessoas me chamaram de “Dalvani, Giovani, Dalvanir”, quase ninguém acerta meu nome que na verdade é o nome do meu avô que eu nem cheguei a conhecer lá do interior do interior da Paraíba, que não sei como esse nome foi chegar lá, por que eu sei que na verdade era um sobrenome italiano, geralmente é fácil de encontrar tipo Luigi Galvani, é sempre sobrenome, dificilmente nome. Eu só encontrei uma pessoa que tem como primeiro nome, mas não conheço mais gente com esse nome como primeiro nome. Tem gente que é até soberba quando pergunta meu nome, tipo: “não senhor, seu nome mesmo pensa” que é tipo assim: Souza, meu cartão! Então eu acabei adotando Galo, até pra conseguir me relacionar com as pessoas por que eu sei que Galvani não é o melhor nome pra você conseguir se relacionar com as pessoas. Galvani é quando a mãe tá nervosa e chama, quando a mulher tá nervosa e chama, quando sei lá você vai ao médico e ele te chama pelo nome, é muito formal, é um nome típico de pintor de paisagem, que assina Galvani e coloca uma bolinha no “i” assim... (risos). Tinha tudo pra ser isso cara, mas, graças a Deus, eu saí dessa aí, imagina hoje, eu podia estar pintando paisagem e as tiazinhas do chá das cinco falando aí: “que lindo!”(risos)

AG: Aí ele subverteu e se chama “Galvani Galo”
E ainda tem gente que quer formalizar demais, dar status de família pro "Galo" colocando dois L, e eu falo: “não mano, Gallo é uma família italiana, o meu é galo de galinheiro, da roça, não é galo italiano, não é essa classe toda, é da terra, que cava minhoca, do galinheiro mesmo”.




Site do artista:  AQUI


1 – Carmen Novo: Artista plástica e jornalista, com especialização em Museologia de Arte. Atualmente reside e trabalha na França.
2 – Salvador Dalí: Salvador Domingo Felipe Jacinto Dali i Domènech, 1º Marquês de Dalí de Púbol (Figueres, 11 de Maio de 1904 — Figueres, 23 de Janeiro de 1989), conhecido como Salvador Dalí, foi um importante pintor catalão, conhecido pelo seu trabalho surrealista.
3 - Celso Ohi: Ator titeriteiro (manipulador de bonecos) na Bonecos Contadores de histórias.
4 - Hyerônymus Bosch: Jeroen van Aeken, cujo pseudónimo é Hieronymus Bosch, e também conhecido como Jeroen Bosch, ('s-Hertogenbosch, c. 1450 — Agosto de 1516), foi um pintor e gravador neerlandês dos séculos XV e XVI.
5 – MASP: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (mais conhecido pelo acrônimo MASP)
6 – Ferrazópolis: Bairro da região sul do Município de São Bernardo do Campo.
7 – Graffiti: Grafite ou grafito (do italiano graffiti, plural de graffito) é o nome dado às inscrições feitas em paredes, desde o Império Romano. Considera-se grafite uma inscrição caligrafada ou um desenho pintado ou gravado sobre um suporte que não é normalmente previsto para esta finalidade. Por muito tempo visto como um assunto irrelevante ou mera contravenção, atualmente o grafite já é considerado como forma de expressão incluída no âmbito das artes visuais, mais especificamente, da street art ou arte urbana - em que o artista aproveita os espaços públicos, criando uma linguagem intencional para interferir na cidade.
8 – Grapixo: Fusão entre o conceito de graffiti e pixo (grosso modo)
9 - Throw-up : Estilo situado entre o "tag"/assinatura de rua e o bombing. Letras rápidas normalmente sem preenchimento de cor (apenas contorno).
10 – Bico: Aparato usado para controlar o fluxo de saída de tinta do spray.
11 – OsGemeos: É uma dupla de irmãos gêmeos idênticos grafiteiros de São Paulo, nascidos em 1974, cujos nomes reais são Otávio e Gustavo Pandolfo. Formados em desenho de comunicação pela Escola Técnica Estadual Carlos de Campos, começaram a pintar grafites em 1987 no bairro em que cresceram, o Cambuci, e gradualmente tornaram-se uma das influências mais importantes na cena paulistana, ajudando a definir um estilo brasileiro de grafite
12 – Pixo: Ato de escrever ou rabiscar sobre muros, fachadas de edificações, asfalto de ruas ou monumentos, usando tinta em spray aerossol, dificilmente removível, estêncil ou mesmo rolo de tinta.Nota: não é nossa intenção aqui, tomar partido, sabemos que o universo da pixação é um tanto mais complexo por tanto atemo-nos a descrição simples da prática.
13 – Tag: É um termo que deriva da denominação utilizada pelos “grafiteiros” e tem origem em Nova York, e quer dizer assinatura.
Também significando marcação em alguns contextos.
14  Punjabi: O panjabi (ਪੰਜਾਬੀ no gurmukhi e پنجابی no shahmukhi, transl. Pañjābī) também chamado de punjabi, é uma língua indo-ariana falada pelo povo panjabi, natural da região do Panjabe, na Índia, e de partes do Paquistão. É uma língua Indo-Européia, do subgrupo de línguas indo-irarnianas.
15 – Sikh: O termo «sikh» tem sua origem no idioma sânscrito śiṣya /ziyia/ ‘discípulo, o que aprende’ ou śikṣa /zikshá/ ‘instrução’. O sikhismo ou siquismo é uma religião monoteísta fundada em fins do século XV no Punjab (região dividida entre o Paquistão e a Índia) pelo Guru Nanak (1469-1539).
16 – Crew: "Equipa", grupo de amigos que habitualmente pintam juntos e que representam todos o mesmo nome. É regra geral os writers assinarem o seu tag e respectiva crew (normalmente sigla com 3 ou 4 letras) em cada obra.
17 – Toy: Toy art, designer toys, urban vinyl, etc, são vários termos que definem o conceito de "brinquedo de arte". É um brinquedo feito para não brincar, dirigido para pessoas com idade acima de 14 anos - especialmente adultos - e com o intuito de colecionismo e/ou decoração.
18 – Cota: Sinal alfabético ou numeral usado para classificar as peças de um processo. Apontamento ou citação à margem de um texto (ou desenho destacando detalhes com maior nível de detalhamento.) Grifo nosso.
19  Tampax: (Tampax ) é uma marca de tampão higiénico comercializada a nível mundial pela Procter & Gamble. A Arbora & Ausonia é responsável, desde2007, pela sua comercialização e distribuição na Península Ibérica. Os tampões são uma das pequenas invenções que maior impacto tiveram na vida das mulheres. Em 1929, o médico Earle C. Haas inventou o primeiro tampão moderno, obtendo a primeira patente em 1931, e começou a comercializá-lo sob a designação de Tampax. Nota: a utilização do termo “TAMPAX” pelo artista se refere ao mesmo fim: ‘tampar”, mas com outra condição técnica de aplicação.
20 – Marcos Vitrúvio Polião: (em latim, Marcus Vitruvius Pollio) foi um arquiteto e engenheiro romano que viveu no século I a.C. e deixou como legado a obra "De Architectura" (10 volumes, aprox. 27 a 16 a.C.), único tratado europeu do período greco-romano que chegou aos nossos dias e serviu de fonte de inspiração a diversos textos sobre Hidráulica, Engenharia, Arquitetura e Urbanismo, desde o Renascimento.
Os seus padrões de proporções e os seus princípios conceituais - "utilitas" (utilidade), "venustas" (beleza) e "firmitas" (solidez) -, inauguraram a base daArquitetura clássica



Fontes:
Wikipédia
http://www.pichacao.com/
http://artdasruas.blogspot.com.br/2009/10/dicionario-do-grafiteiro.html

Entrevista com Galo
Data:17/03/2012
Local: Casa do Artista
Entrevistador : Anderson Gomes
Registro fotográfico: Rocco Ribeiro
Revisão: Patrícia Gudicia de Gurruficia Mara